Nascido na cidade de Alegrete, no Rio Grande do Sul, no dia 30 de julho de 1906, Mário de Miranda Quintana era filho de Celso de Oliveira Quintana, farmacêutico, e de Virgínia de Miranda Quintana.
Iniciou seus estudos em sua cidade natal. Aprendeu noções de francês com seus pais. Em 1919 mudou-se para Porto Alegre onde estudou no Colégio Militar, publicando ali suas primeiras produções literárias. Trabalhou para a Editora Globo e depois na farmácia paterna. Considerado o "poeta das coisas simples", com um estilo marcado pela ironia, pela profundidade e pela perfeição técnica, ele trabalhou como jornalista quase toda a sua vida. Traduziu mais de cento e trinta obras da literatura universal, entre elas Em Busca do Tempo Perdido de Marcel Proust, Mrs Dalloway de Virginia Woolf, e Palavras e Sangue, de Giovanni Papini.
Em 1923, Mário Quintana publicou um soneto no jornal de Alegrete com o pseudônimo de "JB". Em 1924, deixou o Colégio Militar e começou a trabalhar como atendente na livraria Globo, onde permaneceu durante três meses. Em 1925, retornou para Alegrete quando passou a trabalhar na farmácia da família.
Em 1926, Mário Quintana ficou órfão de mãe e se fixou em Porto Alegre, época em que foi premiado em um concurso de contos do jornal "Diário de Notícias", com o conto "A Sétima Passagem". No ano seguinte ficou órfão de pai.
Em 1929, Mário Quintana começou a trabalhar como tradutor na redação do jornal "O Estado do Rio Grande". Em 1930, a Revista Globo e o Correio do Povo publicaram os versos do poeta.
Na época da Revolução de 1930, o jornal O Estado do Rio Grande foi fechado e Mário Quintana partiu para o Rio de Janeiro, onde entrou como voluntário no 7º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre. Seis meses depois, retornou para Porto Alegre e retomou seu trabalho no jornal.
Em 1936, transferiu-se para a Livraria do Globo, quando trabalhou com Érico Veríssimo. Nessa época, seus textos foram publicados na revista Ibirapuitã.
Em 1940, Mário Quintana publicou seu primeiro livro de sonetos A Rua dos Cataventos. Sua poesia extraiu a musicalidade das palavras. A aceitação de seus poemas levou vários sonetos a serem transcritos em antologias e livros escolares.
O segundo livro de Mário Quintana foi Canções. A exploração da musicalidade que faz parte de seus poemas o encaminhou para a criação de poemas que lhe permitiram que essa característica fosse explorada.
Em 1948, Mário Quintana publicou Sapato Florido, um misto de poesia e prosa no qual o poeta adota a figura do caminhante para se auto representar e, o motivo dos sapatos se associa ao dos ventos, das nuvens e dos barcos. Alguns textos são longos e se convertem em prosa poética, outros, não têm mais do que uma frase.
Espelho Mágico foi publicado em 1951, com seus quartetos filosóficos, cheios de ironia e humor.
Na obra Caderno H, de 1973, Mário Quintana reuniu poemas em prosa, alguns longos e outros curtos, mas com dimensão e densidades poéticas e geralmente irônicos. O humor e a capacidade de criar poemas sintéticos e frases demolidoras era uma das suas principais características.
Em 1966, foi publicada a sua Antologia Poética, com sessenta poemas, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, e lançada para comemorar seus sessenta anos de idade, sendo por esta razão o poeta saudado na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira, que recitou o poema "Quintanares", de sua autoria, em homenagem ao colega gaúcho. No mesmo ano ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de Escritores de melhor livro do ano. Em 1976, ao completar 70 anos, recebeu a medalha Negrinho do Pastoreio do governo do estado do Rio Grande do Sul. Em 1980 recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra.
A partir de 1988 Mário Quintana passou a publicar as "Agendas Poéticas", que se tornaram um sucesso de vendas. Nelas, ele escrevia um breve texto para cada dia do ano.
Devido à saúde debilitada, a partir de 1990, o poeta passou a pinçar frases já publicadas em seus livros anteriores.
Desde jovem, Mário Quintana já morava em hotéis. Foi hóspede do Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre, de 1968 até 1980. Uma vez questionado sobre o tamanho do quarto, Quintana disse: "Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas".
Aos 80 anos, Quintana mudou-se para um apartamento no Porto Alegre Residence, um apart-hotel no centro da cidade, onde o poeta viveu até sua morte. Ao conhecer o espaço, ele se encantou e disse: "Tem até cozinha!"
Mário nunca se casou nem teve filhos, embora tivesse fama de cortejar as mulheres. A poesia, embora considerada por ele como “um vício triste”, foi sua maior companheira.
Segundo o autor, em entrevista dada a Edla Van Steen em 1979, seu nome foi registrado sem acento. Assim ele o usou por toda a vida. Mário Quintana faleceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 5 de maio de 1994, em consequência de insuficiência respiratória e cardíaca. aos 87 anos em Porto Alegre. Encontra-se sepultado no Cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre.
Em 1982, o prédio do Hotel Majestic, que fora considerado um marco arquitetônico de Porto Alegre, foi tombado. Em 1983, atendendo aos pedidos dos fãs gaúchos do poeta, o governo estadual do Rio Grande do Sul adquiriu o imóvel e transformou-o em centro cultural, batizado como Casa de Cultura Mario Quintana. O quarto do poeta foi reconstruído em uma de suas salas, sob orientação da sobrinha-neta Elena Quintana, que foi secretária dele em 1979 a 1994, quando ele faleceu.
Obras poéticas
- A Rua dos Cataventos. Porto Alegre, Editora do Globo, 1940.
- Canções. Porto Alegre, Editora do Globo, 1946.
- Sapato Florido. Porto Alegre, Editora do Globo, 1948.
- O Aprendiz de Feiticeiro. Porto Alegre, Editora Fronteira, 1950.
- Espelho Mágico. Porto Alegre, Editora do Globo, 1951.
- Inéditos e Esparsos. Alegrete, Cadernos do Extremo Sul, 1953.
- Poesias. Porto Alegre, Editora do Globo, 1962.
- Caderno H. Porto Alegre, Editora do Globo, 1973.
- Apontamentos de História Sobrenatural. Porto Alegre, Editora do Globo/Instituto Estadual do Livro, 1976.
- Quintanares. Porto Alegre, Editora do Globo, 1976.
- A Vaca e o Hipogrifo. Porto Alegre, Garatuja, 1977.
- Esconderijos do Tempo. Porto Alegre, L&PM, 1980.
- Baú de Espantos. Porto Alegre - Editora do Globo, 1986.
- Preparativos de Viagem. Rio de Janeiro - Editora Globo, 1987.
- Da Preguiça como Método de Trabalho. Rio de Janeiro, Editora Globo, 1987.
- Porta Giratória. São Paulo, Editora Globo, 1988.
- A Cor do Invisível. São Paulo, Editora Globo, 1989.
- Velório Sem Defunto. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1990.
- Água. Porto Alegre, Artes e Ofícios, 2011.
- Eu Passarinho. São Paulo, Para gostar de ler 41, Editora Ática, 2006 (Antologia póstuma).
Livros infantis
- O Batalhão das Letras. Porto Alegre, Editora do Globo, 1948.
- Pé de Pilão. Petrópolis, Editora Vozes, 1968.
- Lili inventa o Mundo. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1983.
- Nariz de Vidro. São Paulo, Editora Moderna, 1984.
- O Sapo Amarelo. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1984.
- Sapato Furado. São Paulo, FTD Editora, 1994.
Antologias
- Nova Antologia Poética. Rio de Janeiro, Ed. do Autor, 1966.
- Prosa & Verso. Porto Alegre, Editora do Globo, 1978.
- Chew me up Slowly (Caderno H). Porto Alegre, Editora do Globo / Riocell, 1978.
- Na Volta da Esquina. Porto Alegre, L&PM, 1979.
- Objetos Perdidos y Otros Poemas. Buenos Aires, Calicanto, 1979.
- Nova Antologia Poética. Rio de Janeiro, Codecri, 1981.
- Literatura Comentada. Editora Abril, Seleção e Organização Regina Zilberman, 1982.
- Os Melhores Poemas de Mario Quintana (seleção e introdução de Fausto Cunha). São Paulo, Editora Global, 1983.
- Primavera Cruza o Rio. Porto Alegre, Editora do Globo, 1985.
- 80 anos de Poesia. São Paulo, Editora Globo, 1986.
- Trinta Poemas. Porto Alegre, Coordenação do Livro e Literatura da SMC, 1990.
- Ora Bolas. Porto Alegre, Artes e Ofícios, 1994.
- Antologia Poética. Porto Alegre, L&PM, 1997.
- Mario Quintana, Poesia Completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2005.
Traduções por Mário Quintana
Dentre os diversos livros que o poeta traduziu para a Livraria do Globo (Porto Alegre) estão alguns volumes do Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust (talvez seu trabalho de tradução mais reconhecido até hoje), e obras de Honoré de Balzac, Voltaire, Virginia Woolf, Graham Greene, Giovanni Papini e Charles Morgan. Além disso, estima-se que Quintana tenha traduzido um sem-número de histórias românticas e contos policiais, sem receber créditos por isso - uma prática comum à época em que atuou na Editora Globo, de 1934 a 1955.
A tradução do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, elaborada por Quintana na década de 1980 para a editora Melhoramentos, foi publicada no ano de 2017, após a obra entrar em domínio público.
Lista exemplificativa
- No caminho de Swann, (Du cote de Chez Swann) volume um (1948).
- À sombra das raparigas em flor (A l'ombre des jeunes filles en fleur) volume dois (1957).
- O caminho de Guermantes ( Le cote de Guermantes), volume três (1953).
- Sodoma e Gomorra (Sodome et Gomorrhe), volume quatro (1957).
A gata persa (La Gatta Persiana) de Alessandro Varaldo, Série Amarela (1938).
Sanders da África (Again Sanders) de Edgar Wallace, Série Amarela (1940).
O poder e a glória (The Power and the Glory), de Graham Greene (1940)
Mrs. Dalloway (Mrs. Dalloway), de Virginia Woolf (1946).
O tio prodigioso (The fabulous clipjoint), de Fredric Brown - Série Amarela (1951).
Contos e novelas, de Voltaire (1951).
Os fantasmas do chapeleiro (Les fantomes du chapelier), de Georges Simenon, Série Amarela (1954).
Sparkenbroke, de Charles Morgan (1954).
Palavras e Sangue (Parole e sangue) de Giovanni Papini (1970).
A lagoa azul (The blue lagoon), de Henry de Vere Stacpoole (1981).
Ilusões perdidas (Illusions perdues), de Honoré de Balzac (1982).
O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince) de Antoine de Saint-Exupéry (2017).