Citar é o mesmo que mencionar, referir-se a alguém ou algum texto (ou trecho) lido, como autoridade, exemplo ou (analisando e contextualizando o poeta Fernando Pessoa*) uma forma de se certificar que não se esquecerá de alguém. Citar também pode ser intimar alguém à comparecer em juízo, para explicar-se, para defender-se, para dizer alguma coisa sobre si mesmo, o que pensa, o que quer que queira dizer. Aqui é, por assim dizer, um lugar para citar quem teve e tem algo a dizer. Bem-vindos!
*Literatura e Imortalidade
Que pensa dos nossos escritores do momento, prosadores, poetas e dramaturgos? Citar é ser injusto. Enumerar é esquecer. Não quero esquecer ninguém de quem me não lembre. Confio ao silêncio a injustiça. A ânsia de ser completo leva ao desespero de o não poder ser. Não citarei ninguém. Julgue-se citado quem se julgue com direito a sê-lo. Ressalvo assim todos. Lavo as mãos, como Pilatos; lavo-as, porém, inutilmente porque é sempre inutilmente que se faz um gesto simplificador. Que sei eu do presente, salvo que ele é já o futuro? Quem são os meus contemporâneos? Só o futuro o poderá dizer. Coexiste comigo muita gente que vive comigo apenas porque dura comigo. Esses são apenas os meus conterrâneos no tempo; e eu não quero ser bairrista em matéria de imortalidade. Na dúvida, repito, não citarei ninguém.
Entrevista de Fernando Pessoa na Revista Portuguesa, nº 23-24. Lisboa: 13-10-1923.